terça-feira, 12 de julho de 2011

Resultado Cenas Curtas 2011

12º FESTIVAL DE CENAS CURTAS SE ENCERRA EM CLIMA DE FESTA!
Depois de uma grande festa em celebração a arte, se encerrou ontem o 12º Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. Diversidade, experimentação, excitação e forte sinergia entre platéia e atores, foram os grandes marcos dessa edição do festival.
Mas não acaba por aí. Do dia 30 JUN a 03 JUL, as cenas mais votadas estarão em cartaz aqui no Galpão Cine Horto a preços populares.

RESULTADO DA APURAÇÃO DOS VOTOS
23 | JUN | QUINTA-FEIRATotal de votos: 183
Cena mais votada pelo público: SOBRE-VIVENTES | 129 votos = 70,5%
Direção Marina Arthuzzi, Marina Viana e Mariana Blanco | BH | MG

terça-feira, 5 de julho de 2011

Por Ana Fuchs

Das cenas quero registrar SOBRE-VIVENTES, em uma palavra VICERAL!
Sem limites!
Algo entre o despojado, o sujo, o podre, o real e o irreal! Energeticamente apoteótico, surpreendente! Sabe a tal puxada de tapete no público? Direto!!Quando pensámos que era uma coisa, virava outra!Uma mistura de Caio Fernando Abreu com "Eu sei que vou te amar" do Jabor (sabe?). É, talvez essa não seja a melhor referência, mas é o que me veio mente!Enfim, meu voto foi pra eles!!!!
http://anafuchs.blogspot.com/

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Para os "Sobre-viventes" - Por Davidson Maurity

Cheguei em casa e a primeira coisa que ouço:
-Você chegou cedo hj! A missa acabou mais cedo? (risos)
-Não vou a missa, tia, você sabe! Não tenho religião.
-De que adianta eu rezar pra vc… É por isso que você não consegue as coisas!
-E é Deus quem vai me dar o que eu preciso???

É ele quem vai me dar o que preciso? Não! Não vai mandar dos céus a paz que preciso, não vai curar as dores que sinto, o dinheiro que não tenho, o amor que não vivi, a alegria, a felicidade, nem a fé pra acreditar.

Caminhei a passos largos, na rua vazia, na noite de domingo e vim cantando:
“Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio…” Não sabia o resto da música. Fiquei só nisso.

E assim “sobre-vivi” ao caminho até em casa. Vim expurgando de lá até aqui meus demônios, meus medos sem razão, o passado raso, os amores arrancados. Lembrei dos dois, que sobre as luzes dos refletores, mostraram aquela amizade doida que parece ter surgido do caos que é a vida.

Ah! Que encontro bonito! Fizeram daquele palco casa, quintal, quarto, banheiro, cozinha, cheio das garrafas do vinho já consumido, dos cigarros já tragados. Encheram aquele lugar de uma força que eu não esperava. Pensei: Vão falar de Caio… Cuidado! Pensei que podia surgir uma decadência que é a dele e que não é de vocês. Mas era tudo de vocês e agora é meu. Tomei pra mim. A poesia trouxe pra mim, a alegria, a gordura, a fé enorme…

Como foi bonito ter vocês comigo no domingo. Meu choro foi da emoção que a muito tempo não reconhecia em mim. Culpa de algumas circunstâncias? Talvez. Mas a poesia de vocês fez folia na minha alma, sambou no meu inconsciente e trouxe um monte de coisas pra fora.

Sou gay, dou meu cu e como também. Eu apertei o botão!
“A esperança é um dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz”

Esse desejo de uma fé enorme me contagiou.
EU QUERO BATER NO LIQUIDIFICADOR E COMER VOCÊS DOIS!

Não dá vontade de parar de escrever, mas não quero parecer prolixo, quero só que vocês saibam de tudo isso.

Domingo, 03 de julho de 2011.

Sexta Sentida - Bianca Sollero

Ontem, no Festival de Cenas Curtas, tive um choque!

Um choque comigo mesma. Meus preconceitos, minha avaliação, minhas concepções.Eu que um dia disse aqui que prezo por ser Sem Radicalismo, me vi totalmente radical. 
Até que a cena "Sobre-Viventes" me tirou deste lugar.As imagens de divulgação da peça me levaram a considerar que aquela seria mais uma peça cheia de p*%@#*, que não leva ninguém a lugar nenhum e só degride ainda mais nossa existência. 
Sou uma pessoa que sempre prefiro olhar o belo, e chego a ser careta. Por isso, não gosto quando vou ao teatro para assistir cenas que, ainda que muito filosóficas, te incitam a uma reflexão cruel de seu lado podre. A arteterapia me fez considerar minha sombra e aprender a tratá-la com respeito, pois meu lado podre é igualmente meu!Achava que era mais uma dessas que eu assistiria... Não foi!Sim: havia bastante p*%@#*, cigarros acesos, garrafas vazias e fragmentos bastante filosóficos. Mas nada de reflexão cruel. Paradoxalmente e instigantemente todo aquele cenário um tanto quanto depreciativo guardava uma mensagem de paz & amor. E acreditem, no sentido menos clichê e mais profundo que isso possa ter!Por isso, hoje dedico a sexta sentida a esta peça. Às boas surpresas da vida, e aos bons reencontros conosco mesmos...

É tempo de fé - Por Rita de Podesta


Já era o segundo dia do 12º Festival de Cenas Curtas, mas o clima era de abertura. Enquanto o primeiro dia foi marcado pelas cenas concorrentes ao projeto Cena-Espetáculo, que escolherá uma cena para tornar-se peça, foi na última quinta-feira (23) que as cenas curtas tiveram seus quinze minutos de palco. A receptividade era cênica. O Galpão exala teatro e inevitavelmente fui asfixiada por diálogos, gestos e pessoas reais ou inventadas.

Após pipocas, amendoins e bebidas oferecidos por personagens em trajes provocantes, começou a primeira cena, Dê uma última olhada nas coisas belas. Um drama existencial, que se afoga nos discursos cotidianos da nossa sociedade por mim não rotulada (não me disseram o que vem depois do pós-moderno). No palco o drama ganhou força num discurso de palavras rebuscadas, uma vez que a língua portuguesa permite belos desabafos. A iluminação criava em uma das atrizes a ilusão de uma cela, enquanto sua colega de palco divagava sobre o desaparecer e era contemplada com o ritual do abandono. Passando pela Virgínia de Lygia Fagundes, que diz ser preciso aprender amar o a beleza do inútil, até o belo sofrido de Frida Kahlo, a cena acabou por retratar bem a angústia no papel da mãe agonizante. Um desassossego bem Pessoano: “há momentos em que tudo cansa, até o que nos repousaria.”

Repouso que pode ser representado pela morte, o descansar para sempre, e que me leva direto a terceira cena, Conversa séria de calcinha e soutien, uma imagética e cômica reflexão sobre a eternidade. Com discursos loucos, eróticos e infantis, o grupo mascarado como em ritos egípcios, fantasiam-se para o além da vida. Me vi inserida num manicômio e fiquei perdida procurando o real foco da discussão que pareceu tomar mais do que quinze minutos, um repouso bem movimentado.

Já na segunda cena, Makunaíma: em a árvore do mundo e a grande enchente, fácil foi deixar o sorriso solto e encantar-se com a infantil personalidade de Macunaíma na representação de cinco irmãos em busca de comida. Apesar do que, sem uma bela sinopse fica difícil entender a trama. Como na história de Mario de Andrade (retrocedemos ao moderno) a cena é um universo de metamorfoses, e com peripécias, no caso de heróis, motivados, sobretudo, pela indolência e erotismo. Os diálogos dos cinco personagens se davam nos murmúrios e gritos indecifráveis do único ator. Uma representação primorosa nos gestos e movimentos, mas senti falta de algo maior, do questionamento sobre a nossa terra hoje transformada, com o encantamento solapado.

Encantamento que me leva a última cena, Sobre-viventes, uma deliciosa provocação à busca por ideais, sejam modernos ou pós-modernos. Religião, estética, drogas, sexo, tropicalismo, liberdade, auto-ajuda e o escambal! Tudo discutido por dois personagens estereotipados como deveriam ser: um homem e uma mulher na sua mais perfeita indefinição sexual. Entretanto, o personagem principal era o cenário. Representação do caótico, com música, bebidas, e um liquidificador, símbolo maior da destruição do uno para unificar-se ao todoUma maneira de retratar a decadência da busca por ideais coletivos, com um humor que para mim têm seu lugar, mesmo quando caem no clichê. E, por isso, nada melhor do que terminar com Caio Fernando Abreu, desejando ao outro uma fé enorme em qualquer coisa.
É isso, para mim fé resume bem as cenas de quinta. Uma fé enorme no discurso caótico, literário, humorístico, performático. Uma fé necessária para acreditar nas palavras ou gestos, para conseguir transmitir em quinze minutos, questionamentos universais e, ao mesmo tempo, extremamente pessoais – seja lá em qual período histórico estivermos.

Perspectivas sobre a morte, os 80 e Macunaíma

Por: LUCIANA ROMAGNOLLI



A morte é tema comum entre dois trabalhos mostrados hoje no 12º Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, que inicia a etapa de votação do público pela sua preferida. 

"Conversa Séria de Calcinha e Sutien", da Preqaria, parte da situação de pós-vida sugerida por Jean-Paul Sartre na peça "Entre Quarto Paredes" e aplica sobre ela os tipos da comédia dell’arte, mas fazendo uso de máscaras pintadas de branco, em um cenário também branco, circunscrito por um espaço preto que representa o nada.Trata-se de um recorte do espetáculo que o grupo estreia no dia 14 de julho, no Palácio das Artes, e no qual nada sobrou das palavras do filósofo francês. "Criamos outras situações discutindo a morte com elementos fortes da comédia dell arte, mas não ficamos presos a ela", comenta o diretor João Valadares, citando como exemplo das liberdades tomadas o figurino composto só de roupas de baixo. Escrita e dirigida por Cynthia Paulino, a cena "Dê uma Última Olhada nas Coisas Belas" também fala do fim, com um elenco de gerações distintas. "Sou a figura que está para se entregar à morte; a Julia Marques é a menina que já se entregou e seu corpo está sendo preparado; e a Dulce Beltrão é a morte", conta a atriz Marina Arthuzzi. Ela e Julia atuam, enquanto a preparadora vocal Eda Costa canta e Dulce Beltrão dança em cena. "Estamos explorando as aptidões específicas de cada uma", diz.

Arthuzzi é também uma das diretoras da cena curta "Sobre-viventes", com a Primeira Campainha, um projeto dos atores Rafael Lucas e Dayane Lacerda que avançou além da ideia de adaptar o conto de Caio Fernando Abreu. "Trouxemos referências de Ana Cristina César, Ângela Rorô, Cazuza e outros ícones decadentes dos malditos anos 1980", diz Marina.A paraense "Makunaíma", de Milton Aires, completa a programação da noite.

CENAS EM BUSCA DE UMA LINGUAGEM

23 de junho – por Soraya Belusi 


“Uma fé enorme em qualquer coisa”, diz a personagem-atriz-narradora de “Sobre-viventes”, último trabalho a entrar no palco desta segunda noite do 12 º Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. A frase, proferida por Dayane Lacerda, pode nos servir como uma espécie de síntese para buscar uma interpretação sobre as escolhas formais das cenas que integraram a programação de ontem.
A primeira cena a se apresentar foi “Dê uma Última Olhada nas Coisas Belas”, com direção de Cynthia Paulino. A equipe do trabalho é formada por “antigos” parceiros de pesquisa, como Marina Arthuzzi e Paolo Mandatti. Isso diz muito do que se vê em cena. O “grupo” traz neste trabalho de 15 minutos algumas das questões que já vem investigando de maneira pontual em outras obras, o que pode ser entendido como a busca de uma linguagem (“uma fé enorme em qualquer coisa”).
É a partir de elementos ritualísticos (como o canto e a lavagem do corpo) e de figuras mitológicas (representações do feminino, com seus seios e sexos, e suas múltiplas facetas) que a encenação constrói o seu discurso. É num tempo espaço atemporal, indefinido, que esse discurso – muitas vezes referencial a mulheres que refletiram sobre suas condições de abandono, solidão e desespero (Virgínia, Clarice?)  –, concretiza-se.
Há um esmero na construção da forma, tanto no que diz respeito à cena, quanto nas palavras. Mas a escolha pelo tom literário pode talvez explicar o que impede que, de alguma maneira, que o discurso deixe de ser apenas formal e agradável aos ouvidos para construir sentido, ocupar a sala do teatro, afetar e penetrar o público.
A segunda cena foi beber no anti-herói nacional, na figura de Macunaíma, para construir uma reflexão sobre a miséria humana e busca de sobrevivência.  É com as referências mitológicas indígenas que o ator Milton Aires, também responsável pela pesquisa e criação do trabalho, dialoga na construção de “Makunaíma: Em Árvore do Mundo e a Grande Enchente”. Milton opta pela investigação de um discurso construído corporal e vocalmente, com potência e vitalidade, mas sem o desenho cuidadoso de cada intenção e imagem, cada grunhido ou gromelô, para que a plateia possa, junto com ele, entrar nesse universo de “embate” entre homem, vida e natureza. A dramaturgia se desenvolve de maneira um tanto confusa, o que é reforçado pela não-clareza das intenções, gestos e/ou ações.
Na sequência, foi a vez de “Conversa Séria de Calcinha e Soutien”  ganhar o palco. O trabalho, dirigido por João Valadares, escolhe a máscara como linguagem corporal e vocal  na atuação do elenco. As referências parecem partir mesmo das máscaras expressivas da commedia Dell arte (embora reinterpetadas em cor e forma) e a seus tipos (o capitão, o doutor, a donzela…). A questão é que, se a escolha formal de fato foi essa, o trabalho de máscaras merece ser aprofundado, trabalhado, assumido. É preciso que essa “forma” sugerida pelo uso da máscara vá além, torne-se orgânica, dê ainda mais vida ao “tipo”, traga estados e relações diferenciadas.
Como base para a dramaturgia, a discussão entre o que é vida e o que já deixou de ser ou existe depois dela, o que é crueldade e o que é amor, entre o que sou eu e o que é o outro, uma espécie de releitura de questões que tanto inspiraram Sartre e seu “Entre Quatro Paredes”  (referência assumida pelo próprio coletivo de criadores em conversa com a imprensa). Neste fragmento de 15 minutos, todas essas questões talvez precisassem ser tratadas com um pouco mais de clareza e organização dramatúrgica para um entendimento mais “redondo” dos pontos que o trabalho pretende tocar.
“Uma fé enorme em qualquer coisa”. Está aí algo que esse trio de parceiras-criadoras (Marina Arthuzzi, Marina Viana e Mariana Blanco) realmente compartilha. Integrantes da Cia. Primeira Campainha, as três vêm em todos os seus trabalhos utilizando elementos, temáticas e escolhas formais recorrentes, uma espécie de afirmação de identidade, marcada pelo humor, pela capacidade de construir e desconstruir realidades cênicas, pela discussão sobre sexualidade, relações pessoais e amorosas, um turbilhão de informações e citações intelectuais batidas, neste caso literalmente, em um  liquidificador. 
“Sobre-viventes” é trabalho de voltagem 220, na quinta marcha, no volume máximo, como tudo o que essas criadoras tocam. Consegue, dramaturgicamente, trafegar entre camadas distintas sem esforço, passando sem sobressaltos pelo discurso do personagem, para o do ator, para o do narrador, e, assim, ciclicamente.  O trabalho tem uma escolha pela anarquia que, em si, contém uma ordem muito particular, destilando acidez pop-punk-rock pelos poros (talvez em exagero em momentos como a invasão do palco numa espécie de catarse coletiva).
É no limite que “Sobre-viventes”, assim como os outros estudos-exercícios-espetáculos, se instala (e é isso que o torna especial). Entre o que já foi feito e o que de novo pode aparecer, entre a construção de um pensamento e uma verborragia cheia de referências, de construir a poesia em cena e transformá-la, quando o teatro realmente acontece, em “beleza” e emoção (talvez, uma pitada de jazz nesse concerto do Mettalica!). Esses são os momentos mais potentes do trabalho. É com fome, sede, gana, irresponsabilidade e confiança que o grupo mostra sua “fé enorme” no que leva para a cena. Muitas vezes, a ponto de “deixar o público sem ar”… talvez, falte só respirar um pouquinho…

Sobre- Viventes


SOBRE-VIVENTES - Por Valmir José

Cena "Sobre-viventes" - Foto: Guto Muniz
Pétalas e pedras de gelo atiradas no olho do liquidificador são indícios de que “Sobre-viventes” veio para quebrar as convenções do que é sólido (a moral) e do que é romântico (o amor). A um só tempo atores, autores e personagens, ele e ela são embalados por canções etílicas e embarcam numa bad trip que a quantidade de garrafas no cenário dá a entender que será profunda. Deitam falas sobre as ilusões perdidas dos anos 80, sobre comportamentos sexuais, sobre o universo em torno de seus umbigos. A dramaturgia inclui citações a Ana Cristina César e a Caio Fernando de Abreu, escritores ícones na transgressão com causa: ou seja, sem burilar a linguagem para expressar sua arte eles nada seriam. (O enredo, sabemos depois, tem forte inspiração no conto “Os sobreviventes”, do escritor gaúcho).

Trinca de "EMES"

Por Raquel Freitas
Com o perdão do clichê, mas quase impossível não pensar no bom e velho ditado “um é pouco, dois é bom, três é demais” quando o assunto é “Sobre-viventes”, uma das quatro atrações da segunda noite do 12º Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. No palco, prova concreta de que dois é bom. A dupla de atores Dayane Lacerda e Rafael Lucas mostrou sintonia orgânica e cumplicidade intensa.
Já atrás da coxia, o dito popular tem a validade questionada. Um seria pouco, indubitavelmente; entretanto, três seria demais? Se o que está em questão é o trio de diretoras Mariana Blanco, Marina Arthuzzi e Marina Viana, três parece ser a quantidade certa. Não é a primeira vez em que a trinca de ases – ou, nesse caso, trinca de “emes” – assina em conjunto a direção de um espetáculo. Em “Sobre dinossauros, galinhas e dragões”, o comando foi compartilhado, mas na forma de Primeira Campainha – segundo definição de Arthuzzi, “um grupo, um coletivo, uma família, uma casa, uma banda, um trio, um forró”, criado há cerca de um ano e meio, em Belo Horizonte.
No Cenas Curtas, as integrantes da Primeira Campainha não carregam o nome do coletivo de múltiplos sentidos. “É engraçado, vem a patota junta e o povo já quer dar um nome. A gente não está aqui como Primeira Campainha. Aqui a gente está como Marina, Marina e Mariana”, explica Marina, a Arthuzzi. Independentemente disso, fato é que a direção a três parece mais uma vez ter funcionado. A parceria surgiu em 2007, quando Marina Viana foi convidada pelas duas outras para dirigir o trabalho de conclusão do curso de Artes Cênicas, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A experiência daria origem à peça “Elizabeth está atrasada”, que mescla influências múltiplas e Role-playing game (RPG).
Perdão novamente aos que combatem frases e ideias batidas, aqui em nome de Mariana Blanco. Para a artista, não há como explicar a parceria entre ela e as Marinas sem ser de uma forma clichê. “Foi um grande encontro de afinidades pessoais e estéticas. Foi uma escolha muito feliz que acabou se misturando em outros aspectos da nossa vida”, conta. Essa sociedade, antes mesmo de evoluir artisticamente e ser firmada pelo surgimento de um grupo teatral, deu origem a um novo lar. Desde 2008, além de partilharem funções cênicas, Marinas e Mariana dividem contas e se revezam em tarefas domésticas. “A gente mora junto e isso influi muito no nosso modus operandi. Enquanto lavamos louça, estamos pensando em peças, em texto, tendo ideias. Por isso, é muito conjunta a nossa criação”, revela Marina, agora a Viana.
Quem está de fora, vê nisso tudo uma conotação, de certa forma, hippie, declara e ratifica Mariana Blanco. A casa das três é uma espécie de produtora, de onde são alavancados projetos delas e também de amigos. Manter o bom humor – marca forte no trabalho da Primeira Campainha e também notado na cena “Sobre-viventes” – tem sido para Blanco o desafio para dar continuidade a essa intensa convivência. E, para conduzir a experiência da melhor forma, Marinas e Mariana tentam se dividir nas funções do dia-a-dia e se articulam e se multiplicam no teatro: produzindo, iluminando, atuando, dirigindo e escrevendo.
Apesar de as funções serem executadas em conjunto, cada uma das artistas acaba assumindo subfunções. No quesito comando de uma peça, Marina Artuzzi toma mais à frente da direção propriamente dita. Talvez seja simplesmente por uma questão de personalidade. “Eu costumo ser sempre a mais “mandona”. Alguém tem que tomar uma decisão. Fica uma empurrando pra outra e eu acabo decidindo. Às vezes, eu erro, muito de vez em quando”, brinca Arthuzzi. E não foi dessa vez, na direção de Sobre-viventes, que Marina Arthuzi e suas companheiras erraram. Agora, que me desculpem os amantes do bom e velho ditado; três definitivamente não é demais.