espetáculos

UMA CARTA PARA VINCENT - 2015


Partindo de uma pesquisa entorno da autobiografia no processo criativo do ator, a Cia. Quinta Marcha estreia em Curitiba o seu mais novo espetáculo "Uma carta para Vincent". Baseado na vida e obra do pintor Vincent van Gogh, cuja morte completa 125 anos este ano, o espetáculo conta com a direção de Odilon Esteves (da Cia. Luna Lunera) e atuação de Dayane Lacerda. Ambos os artistas se debruçam na dramaturgia do espetáculo, esbarrando em temas como solidão, família e a condição do artista contemporâneo. Processo criativo No processo de criação do espetáculo buscou-se estabelecer uma relação entre estado cênico, ficção e autobiografia.

 No ano de 2006, a atriz Dayane Lacerda teve contato com a obra do pintor Vincent van Gogh, sua biografia, quadros e cartas lhe despertaram a percepção de uma obra única, mesmo sendo fruídos separadamente. A vida do pintor, suas cartas e quadros apresentavam-se diretamente interligados, tornando-se inseparáveis. Vida e obra intimamente conectadas, a obra contaminando a vida e deixando-se embebedar por ela, “quero pintar o que sinto e sentir o que pinto” (Van Gogh, 2012, p.27). A questão inicial, que impulsionou o desejo de criação, buscou compreender por que a vida-pintura de Van Gogh afetavam-se reciprocamente, tornando ambas, simultaneamente, causa e consequência uma da outra. O pintor não só deixou-se tocar por sua pintura como fez dela um artefato arraigado a suas percepções e experiências pessoais.

 Nos últimos anos a Cia Quinta Marcha veio se interessando pelas obras de vários artistas na qual vida e trabalho poderiam ser considerados como elementos de uma mesma substância, dentre eles: Frida Kahlo (1907-1954), Louise Bourgeois (1911-2010), Florbela Espanca (1894-1930), Sylvia Plath (1932-1963), Sarah Kane (1971-1999), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Marina Abramovic (1946), Camille Claudel (1864-1943), Ana Cristina César (1952-1983) etc. Todos esses artistas apresentam características claras de trabalhos extremamente autobiográficos, e de uma subjetividade que emerge com clareza em suas obras.

 "Uma carta para Vincent" tenta borrar os limites entre ficção e realidade, contaminando a imaginação de realidade, a realidade de delírios e os delírios de verdades sinceras e inventadas. Esse trabalho foi desenvolvido, inicialmente, na Universidade Federal de Minas Gerais, em 2014, como trabalho de conclusão de curso de Dayane Lacerda, com orientação da artista pesquisadora Mônica Ribeiro. Posteriormente, os artistas envolvidos na criação, decidiram dar continuidade ao trabalho, desenvolvendo novas possibilidades e caminhos ao espetáculo.

 Ficha artística
CONCEPÇÃO, DRAMATURGIA E ATUAÇÃO: Dayane Lacerda
DIREÇÃO e ORIENTAÇÃO DRAMATÚRGICA: Odilon Esteves
PROJEÇÃO: Fabiano Lana
FIGURINO: Mariana Blanco e Mariana Teixeira
ARTE GRÁFICA: Nina Aragón
PRODUÇÃO: Denise Leal
REALIZAÇÃO: Cia. Quinta Marcha




 SE ESSA RUA FOSSE MINHA - 2014
Partindo do universo da rua e da trajetória delirante de Lady Macbeth, a estória traz a luz temas como invisibilidade social e relações de poder, contracenando com os fantasmas do dia a dia de uma mulher em situação de rua e revela um espetáculo lírico, cômico e trágico. A temporada de estreia fez parte da Mostra Gandarela Cultural 2014. O encontro entre a equipe artística permitiu uma criação livre sobre a personagem do clássico de William Shakespeare, abordando uma estória real a partir de um eixo dramatúrgico. Os diálogos da personagem, ora reais ora imaginários, foram inspirados no convívio com moradores de rua, além de mulheres como Estamira, que viveu e trabalhou em um lixão do Rio de Janeiro, e Stela do Patrocínio, interna da Colônia Psiquiátrica Juliano Moreira e descoberta como artista-poeta pela artista plástica Neli Gutmacher.

O processo de criação
A personagem Macaxeira, já conhecida na cena teatral mineira, nasceu em 2010, no espetáculo “Sua cabeça é a lei de Mac”, concebido para a formatura do Cefar naquele mesmo ano, em turma da qual participava Denise Leal. A peça, apresentada no Parque Municipal, contou com a direção de Juliana Pautilla e dramaturgia de Letícia Andrade, sendo livremente inspirada em Macbeth de Shakespeare. Desde 2011 Denise começou a se apresentar como Macaxeira nos entreatos do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. Lá novas possibilidades surgiram e a personagem ganhou um perfil mais cômico e performático. Na mesma época a atriz começou a trabalhar no Teatro Espanca!, localizado no baixo centro de Belo Horizonte, onde se aproximou da realidade dos moradores de rua do entorno. A experiência foi fundamental como inspiração para continuar a dar vida à personagem. “O desejo de retomar a Macaxeira e seu universo urbano se tornou uma urgência! Não tinha como permanecer em silêncio, então eu resolvi trazer junto à personagem o universo trágico de Shakespeare, dialogando com a ficção e a realidade de um tema tão atual e potente: a rua, o espaço urbano e as relações de poder que nele existe. ”, descreve Denise. Em 2014, a atriz desenvolveu a cena curta O recolhimento compulsório, a tomada de pertences e a expulsão sofrida pelos moradores de rua dos grandes centros urbanos ganham voz e fala em “Se essa rua fosse minha”. Fatos reais ocorridos em Belo Horizonte, como a queda do viaduto na Av. Pedro I e o assassinato de Luiz Estrela, reverberam no processo criativo e nas improvisações. Direção “Não optamos pela fidelidade ao cânone, mas por uma bricolagem entre ficção e real, para dizer que a rua é dessa rainha, no poder delirante dela”, afirma Juliana Pautilla, que assume a direção e a dramaturgia do espetáculo, ao falar sobre a personagem Macaxeira. Ela descreve que o desafio inicial do processo criativo foi fugir do estilo Stand Up e da comicidade mais direta para encontrar nuances tragicas para a personagem. Assim em Se essa rua fosse minha optam por uma narrativa fragmentada para levar o espectador a destrinchar fatos atuais reais e o percurso ficcional de lady macbeth.

Ficha Artística e Técnica
Atuação: Denise Lopes
Direção e dramaturgia: Juliana Pautilla
Assistente de direção: Dayane Lacerda
Iluminação: Marina Artuzzi
Técnico: Willian Araujo
Participação especial: Halyson Félix e Clara Freitas
 Realização: Cia Quinta Marcha



 SOBRE-VIVNTES: REEDITADOS E DISPERSOS - 2012
No intuito de pesquisar a obra de Caio Fernando Abreu, Ana Cristina César e dramaturgia autoral, os jovens atores Dayane Lacerda e Rafael Lucas Bacelar se uniram em 2010 para darem início a essa pesquisa que desencadearia, posteriormente, numa cena curta apresentada nos principais festivais nacionais de cenas curtas - sendo contemplada com 14 indicações e 10 premiações - e consequentemente na criação da atual Companhia Quinta Marcha. Para auxiliar na construção da obra foram convidadas as atrizes da Primeira Campainha, grupo importante na cena teatral belo-horizontina, para assumirem a direção do trabalho Os jovens atores(péssimo atores criadores) buscam com a criação da Companhia Quinta Marcha e, consequentemente, do seu primeiro espetáculo, um retrato de sua geração, desejos e utopias. Tratando da vida e obra de Caio Fernando e Ana Cristina César e materiais dos próprios atores, o espetáculo permeia a fronteira entre ficção e realidade, apresentando dois amigos íntimos, expondo a delicadeza e crueldade de um amor intenso.